NOTA TÉCNICA
Nota de alerta sobre sarampo: recomendações da Sociedade Brasileira de Imunizações, Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Estado do Rio de Janeiro e Sociedade Brasileira de Obstetrícia e Ginecologia da Infância e Adolescência

Isabela Ballalai 1, Denise Leite Maia Monteiro 2

2019
Vol. 129 - Nº.01
Pag.15 – 16

A vacina tríplice viral confere proteção contra sarampo, caxumba e rubéola (SCR). Essas três doenças podem estar associadas a graves complicações e/ou à morte. Graças à vacinação rotineira e a um intenso programa de campanhas vacinais, a rubéola foi eliminada das Américas em 2015, o sarampo em 2016 e a caxumba teve sua incidência radicalmente reduzida.

No entanto, por motivos multifatoriais, inclusive a não percepção de risco para essas doenças pela população e também pelos médicos, o país enfrenta, desde 2016, uma queda substancial da cobertura vacinal entre crianças e, entre adultos, reduzida busca pela vacina.

Diante desse cenário, com a reintrodução do vírus na região norte do país, em 2018 foram registrados mais de 10 mil casos de sarampo distribuídos em diferentes estados, mas com a grande maioria no estado do Amazonas. Campanhas de vacinação, a comunicação e o alerta dado pelo Ministério da Saúde e pelas sociedades médicas, no entanto, não foram suficientes para que todos buscassem a vacinação. Dessa forma, em 2018 o sarampo continuava a causar surtos, principalmente no Sudeste (São Paulo e Rio de Janeiro) e na Bahia.

O sarampo é uma doença viral infecciosa aguda, extremamente grave e altamente contagiosa. Uma em cada 20 crianças com sarampo pode desenvolver pneumonia, principal causa de morte por sarampo em crianças pequenas. Pode ainda evoluir para otite média, encefalite e morte. A panencefalite esclerosante subaguda é uma doença neurodegenerativa fatal, rara, que pode se desenvolver de sete a dez anos após a infecção por sarampo, caracterizada por deterioração intelectual, convulsões e mioclonias e que pode evoluir para descerebração espástica e morte. O sarampo pode ser contraído por pessoas de qualquer idade!

A transmissão do sarampo ocorre quando o indivíduo doente tosse, fala, espirra ou respira próximo a outras pessoas. A transmissão ocorre de forma direta, quatro dias antes e até quatro dias após o aparecimento do exantema (manchas vermelhas pelo corpo). A única maneira de evitar o sarampo é a vacinação!

Os principais sintomas do sarampo são: febre acompanhada de tosse, irritação nos olhos, nariz escorrendo ou entupido e mal-estar intenso.

Embora o maior número de casos esteja ocorrendo entre os adolescentes e adultos jovens, os maiores coeficientes de incidência da doença ainda se encontram entre os menores de 12 meses, especialmente no segundo semestre de vida.

ESTRATÉGIAS DO MINISTÉRIO DA SAÚDE

  • Intensificação da vacinação rotineira com a tríplice viral, em todo o território nacional, para toda a população entre 12 meses e 49 anos e para profissionais da saúde sem limite de idade. A vacina está contraindicada para gestantes e pessoas com imunossupressão por doença ou tratamento (consulte calendário de vacinação de pacientes especiais em: https://sbim.org.br/images/calendarios/calend-sbim-pacientes-especiais.pdf);

  • Aplicação de dose extra da tríplice viral em crianças de 6 a 11 meses de idade, que residam ou que se desloquem para municípios em surto ativo (acompanhar notas técnicas do Ministério da Saúde);

  • Vacinação de bloqueio em caso de exposição ou surtos comunitários.

    RECOMENDAÇÕES E ESQUEMAS DE DOSES

  • Duas doses da tríplice viral aos 12 e 15 meses de idade;

  • Para crianças que receberam dose extra antes de 1 ano de idade: 2 doses da tríplice viral com intervalo mínimo de 1 mês entre elas;

  • Para crianças, adolescentes e adultos não vacinados: 2 doses da tríplice viral com intervalo mínimo de 1 mês entre elas;

  • Para crianças, adolescentes e adultos que receberam apenas 1 dose da vacina após a idade de 1 ano: 1 dose da tríplice viral;

  • Para adultos que receberam uma dose da vacina contra o sarampo antes da idade de 1 ano: 2 doses da tríplice viral com intervalo mínimo de 1 mês entre elas;

  • Para crianças, adolescentes e adultos com esquema completo não há evidências que justifiquem uma terceira dose como rotina, podendo ser considerada em situações de exposição ou surtos de sarampo ou caxumba.

    OBSERVAÇÕES

  • Considera-se vacinado quem apresentar registro da aplicação da vacina. Caso contrário, deve-se recomendar a vacinação, sem risco de evento adverso ou qualquer prejuízo para a saúde do indivíduo;

  • Pessoas com mais de 49 anos provavelmente tiveram sarampo, por isso não são prioridade do Ministério da Saúde para a vacinação. No entanto, ainda que raramente (incidência de 39 casos/100 mil entre maiores de 50 anos no Amazonas), podem adoecer. Diante da exposição ao vírus, dúvida sobre passado de doença ou sobre o histórico vacinal, a vacinação é indicada, inclusive para maiores de 60 anos;

  • Do ponto de vista de saúde pública, na rotina, o Ministério da Saúde disponibiliza 2 doses da tríplice viral para pessoas entre 1 e 29 anos e 1 dose para aqueles entre 30 e 49 anos.

    IMUNIZAÇÃO NA GESTAÇÃO E PUERPÉRIO

    A vacina tríplice viral está contraindicada para gestantes. Embora exista risco teórico para o feto, estudos publicados na literatura médica, inclusive brasileiros, relatam que em situações em que gestantes foram inadvertidamente vacinadas houve baixíssimo índice de infecção fetal e nenhum caso síndrome da rubéola congênita ou qualquer intercorrência durante a gestação ou, ainda, danos à saúde do feto.

    Puérperas podem ser vacinadas a partir do pós-parto imediato.

    Não há contraindicação para mulheres amamentando, mesmo bebês com menos de seis meses de idade.

    CONTRAINDICAÇÃO DA VACINA

  • Gestantes;

  • Bebês com menos de 6 meses de idade;

  • Pessoas imunossuprimidas por doença ou uso de medicação imunossupressora;

  • Crianças que vivem com vírus da imunodeficiência humana (HIV) que tenham imunossupressão e/ou sintomatologia grave (CD4<15% para aquelas até 5 anos; e CD4<200 células/mm3, para maiores de 5 anos);

  • Adultos que vivem com HIV com CD4<200. Para aqueles com CD4 entre 200 e 350, os parâmetros clínicos e o risco epidemiológico devem ser avaliados pelo médico para a tomada de decisão;

  • Pessoas com histórico de alergia grave (anafilaxia) após aplicação de dose anterior das vacinas ou a algum de seus componentes. Importante: não há contraindicação para alérgicos a ovo;

  • A rede pública dispõe de vacinas tríplice viral produzidas por três fabricantes: Fiocruz/Bio-Manguinhos, Serum Institute of India e GSK. A vacina do Serum Institute of India contém traços de lactoalbumina, portanto é contraindicada para alérgicos à proteína do leite de vaca. A condição deve ser informada na sala de vacinação, para que a vacina adequada seja administrada.

  • Affiliation

    1 Comissão Nacional Especializada, Vacinas, Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Grupo Consultivo da Vaccine Safety Net, Organização Mundial da Saúde. Grupo de Trabalho Imunizações da Sociedade de Pediatria do Rio de Janeiro. Comitê Técnico Assessor em Imunizações do Estado do Rio de Janeiro. Grupo Vaccini Clínica de Vacinação.
    2 Faculdade de Ciências Médicas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Centro Universitário Serra dos Órgãos (UNIFESO).

    REFERENCES

    1. Brasil. Secretaria de Vigilância em Saúde. Monitoramento do Sarampo - 2019 [Internet]. Brasil: Secretaria de Vigilância em Saúde; 2019. Disponível em:
    2. Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. Sarampo: Alerta Febrasgo [Internet]. Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia; 2019. Disponível em:
    3. Sociedade Brasileira de Imunizações. Nota técnica 16/07/18 - Sarampo [Internet]. Sociedade Brasileira de Imunizações; 2018. Disponível em:
    4. Sociedade Brasileira de Imunizações. Calendários de Vacinação. Sociedade Brasileira de Imunizações [Internet]. 2019. Disponível em:
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