Avaliação da concordância interobservador do exame do toque vaginal durante o primeiro período do trabalho de parto
Mariana Silva dos Santos
1
*
Fernanda Campos da Silva
1
Vinicius Almeida de Oliveira
1
Pedro de Britto Pereira
1
Ivy Saar Maia
1
Hugo César Pereira de Oliveira
1
1Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro (RJ), Brasil.
*Autor correspondente: mariana.santos@gmail.com
Objetivos: Avaliar a concordância do exame do toque vaginal entre dois profissionais obstétricos em relação à dilatação cervical, variedade de posição e altura da apresentação cefálica fetal durante o primeiro período do trabalho de parto, além de avaliar a concordância interobservador com dilatação cervical menor e maior que 5 centímetros.
Material e métodos: Trinta mulheres com gestação a termo e em trabalho de parto na maternidade do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG) foram avaliadas por dois médicos obstetras, cegos entre si, em dois momentos distintos, e os toques vaginais de cada um foram comparados para estimativa da concordância entre eles. Foi realizado o teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov para cada variável para os dois examinadores e estabelecido o intervalo de confiança de 95% (IC95%) para todas as análises. A presença de diferença entre as médias de cada examinador foi avaliada pelo Teste t de Student pareado; o grau de associação entre eles foi feito por meio da correlação linear, por meio do coeficiente de correlação de Pearson; e a concordância entre os examinadores foi analisada visualmente pelos gráficos de diferenças de Bland-Altman. Como a variável variedade de posição não é numérica, foram utilizados testes não paramétricos para sua avaliação.
Resultados: A dilatação cervical apresentou coeficiente de correlação de Pearson de 0,84 (IC95% 0,69-0,92) no tempo A e 0,92 (IC95% 0,84-0,96) no tempo B; para altura da apresentação obteve-se correlação de 0,73 (IC95% 0,50-0,86) em A e 0,85 (IC95% 0,71-0,93) em B. A variedade de posição apresentou 6,6% de concordância no tempo A e 20,0% no tempo B, sendo as variedades concordantes occípito-esquerda-anterior (OEA), occípito-direita-anterior (ODA) e occípito-esquerda-posterior (OEP). A avaliação de concordância interobservador com dilatação do colo menor ou maior que 5 centímetros não foi realizada, pois somente 5 mulheres foram avaliadas com menos de 5 centímetros de dilatação, número insuficiente para se avaliar possíveis diferenças entre os examinadores.
Conclusões: O estudo obteve alta concordância interobservador para dilatação cervical e altura da apresentação, mas baixa concordância para a variedade de posição.
Palavras-chave: Parto obstétrico; apresentação no trabalho de parto; tocologia.
Comparação dos resultados gestacionais entre pacientes com síndrome antifosfolipídeo (SAF) trombótica e gestantes com trombose venosa profunda sem SAF
Thabata Lessa Suellen¹
Monteiro Pereira¹
Priscila Guyt Rebelo¹
Nathalia Ney¹
Guilherme Ribeiro Ramires de Jesus¹*
Nilson Ramires de Jesus¹
¹Departamento de Obstetrícia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro (RJ), Brasil.
*Autor correspondente: guilhermedejesus@gmail.com
Objetivo: Comparar os resultados gestacionais de pacientes que apresentaram trombose venosa profunda (TVP) sem anticorpos antifosfolipídeos (aPL) com pacientes com síndrome antifosfolipídeo (SAF) com história de trombose vascular.
Métodos: Foi realizado um estudo de coorte com gestantes acompanhadas em nosso pré-natal que apresentaram trombose vascular. As pacientes foram divididas em dois grupos: o primeiro consistiu em gestantes que apresentaram trombose vascular com pesquisa para SAF negativa; e o segundo consistiu em pacientes com SAF.
Resultados: Setenta e cinco pacientes com trombose vascular foram incluídas no presente estudo, sendo 39 com história de trombose aPL negativos (Grupo 1) e 36 com aPL positivo (Grupo 2), confirmando o diagnóstico de SAF. O grupo 2 apresentou história obstétrica desfavorável em comparação com o grupo 1 (passado de 13 natimortos e 27 abortos versus 1 óbito fetal e 13 abortos no grupo 1). Pacientes com trombose e aPL positivo (Grupo 2) apresentaram, com maior frequência na gestação atual, crescimento intrauterino mais restrito (11x0, p <0,001), parto prematuro (10 versus 2, p=0,004), oligodramnia (7 versus 1, p=0,010) e pré-eclâmpsia (10 versus 4, p=0,030). O peso médio do nascimento (2.367,14±869 versus 3.451,11±502, p<0,001) e a idade gestacional (36,24±3,7 versus 38,74±1,5, p<0,001) no parto foram significativamente menores no grupo 2.
Conclusão: A presença de aPL em pacientes com história de trombose está associada a piores resultados gestacionais, incluindo maior incidência de pré-eclâmpsia, parto prematuro e menor peso ao nascer; enquanto a história de TVP com pesquisa para aPL negativa apresentou resultados gestacionais favoráveis. Nosso estudo sugere que a investigação para SAF é fundamental para o acompanhamento adequado de gestante com história de trombose vascular.
Palavras-chave: trombose venosa; síndrome antifosfolipídica; gestação.
Conduta frente à doença trofoblástica gestacional
Pamela Carolina Lima Lago
1
*
Carolina dos Anjos Sampaio
1
Isabela Coelho Guimarães
1
Bruna Teixeira Marques
1
Ana Letícia Miyazaki da Silveira
1
1Fundação Técnico Educacional Souza Marques - Rio de Janeiro (RJ), Brasil.
*Autor correspondente: pamelacarolinamd@gmail.com
Objetivos: Revisar o tratamento da doença trofoblástica gestacional e evidenciar a importância do diagnóstico precoce para obter um melhor prognóstico.
Materiais e Métodos: Este estudo constitui uma revisão de literatura. Os artigos foram selecionados por busca nos bancos de dados SciELO e EBSCO, a partir da fonte MEDLINE, além dos periódicos da revista JCO. A pesquisa dos artigos foi realizada entre janeiro e julho de 2016.
Resultados: A evolução da doença trofoblástica para a neoplasia é pouco frequente. No entanto, quando ocorre, o diagnóstico precoce mostrou-se como a medida mais eficaz para aumentar as chances de cura e preservar a capacidade reprodutiva. O diagnóstico é realizado por meio dos níveis de ß-HCG, pela ultrassonografia e pelo exame histopatológico. A Mola Hidatiforme completa e parcial é conduzida com vacuoaspiração e seguimento pós-molar, dosando os níveis de hCG por seis meses; e estadiamento da doença, por meio dos critérios da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO) após estabilização ou elevação dos níveis. No diagnóstico de Mola Invasora ou Coriocarcinoma faz-se o estadiamento segundo os critérios FIGO. A estratificação em baixo risco determina o tratamento monoterápico com metotrexate associado ao ácido folínico, enquanto que casos de alto risco são tratados com poliquimioterapia associada ou não à cirurgia adjuvante, isto é, histerectomia e ressecção de nódulos metastáticos.
Conclusão: O tratamento e o seguimento da doença trofoblástica gestacional sofreram importantes modificações nos últimos anos. O conhecimento da conduta frente a essa doença é relevante, visto que diagnosticada precocemente sua evolução maligna tem 90% de chance de cura. A importância no desenvolvimento de tratamentos que aumentem a sobrevida da gestante está na expectativa de que se diminuam as recidivas da doença e o risco de metástases, além de aumentar as possibilidades de que as próximas gestações dessas mulheres tratadas sejam sem intercorrências, com feto viável e mãe saudável, com ambos podendo conviver fraternamente, estabelecendo a ligação mãe-filho.
Palavras-chave: doença trofoblástica gestacional; conduta; prognóstico.
Gemelidade imperfeita, gêmeos céfalotoracópagos: relato de caso
Priscilla Veiga Pereira da Silva
1
*
Eduardo Sertã de Souza Carvalho
1
Cristos Pritsivelis
1
Jair Roberto da Silva Braga
1
1Maternidade Escola, Universidade Federal do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro (RJ), Brasil.
*Autor correspondente: prisci1986@terra.com.br
Introdução: A gemelidade imperfeita é uma malformação congênita rara (1:50.000-1:200.000), provavelmente decorrente da divisão incompleta do eixo embrionário, que ocorre entre o 13º e o 15º dia após a fecundação. É fundamental determinar o local de coligação e o grau de união dos fetos para avaliar seu prognóstico, que geralmente é sombrio.
Objetivo: Relatar o caso clínico de gemelidade imperfeita e mostrar a importância da ultrassonografia (USG) para o acompanhamento pré-natal e o desfecho da gestação adequados.
Desenvolvimento: Paciente A.C.S., sexo feminino, 37 anos, gestante GII P0 AI, sem comorbidades, encaminhada por unidade básica de saúde para avaliação e possível acompanhamento pelo setor de Medicina Fetal (MF) da Maternidade Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) após iniciar pré-natal tardiamente - com 21 semanas de gestação -, quando realizou USG obstétrica que evidenciou gestação gemelar imperfeita, com junção dos polos cefálicos. Ingressou no pré-natal do setor da MF em 20 de abril de 2016, realizou USG obstétrica com diagnóstico de gêmeos acolados céfalotoracópagos. Seguiu acompanhamento pré-natal no serviço de MF da UFRJ, onde realizou nova USG, que evidenciou gestação gemelar imperfeita com 23 semanas e 5 dias, com dois fetos unidos pela cabeça, pelo tórax e pelo abdome, sendo as cabeças unidas pela parte frontal, sem visualização das faces. Após manifestar desejo de interrupção da gestação, a paciente foi orientada a procurar a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, levando o laudo da USG assinado por dois médicos do Serviço de USG da instituição, além de um parecer do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP). Em 10 de maio de 2016, a paciente recebeu o alvará judicial, deferindo o pedido. Em 12 de maio de 2016 foi realizada injeção intracardíaca de KCl a 10%, no curso da 28ª semana de gestação, induzindo parada cardíaca do feto. Foi iniciada indução de trabalho de parto com misoprostol 50 mcg via vaginal de 6/6 h no mesmo dia. Deu à luz via parto vaginal sem intercorrências, no dia 14 de maio de 2016, às 01h00, a gêmeos femininos, mortos, unidos pelo tórax, pelo abdome e pela cabeça, com face única e peso 1.425 g. A placenta foi enviada para análise histopatológica cujo laudo foi compatível com gestação no 2º trimestre sem alterações significativas. A paciente recebeu alta hospitalar no dia 14 de maio de 2016.
Conclusão: Esse relato de caso é um exemplo de gemelidade imperfeita acompanhada em um serviço de saúde universitário. O diagnóstico pré-natal precoce, por USG obstétrica, é fundamental para a conduta adequada e a orientação ao casal.
Palavras-chave: doenças em gêmeos; gêmeos unidos; gêmeos monozigóticos.
Gestação ectópica com feto vivo de 11 semanas e 3 dias
Mayara Caroline Feitosa
1
*
Wellington Rodrigues Rigon
1
Monalisa de Miranda Silva Peralta
1
Alexa Loyola Araújo
2
Claudia Fidelis Bernacchi
3
Eliana Alves Mazzaro
3
1Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro (RJ), Brasil.
2Universidade Estácio de Sá - Rio de Janeiro (RJ), Brasil.
3Hospital Municipal Miguel Couto - Rio de Janeiro (RJ), Brasil.
*Autor correspondente: mayaracfeitosa@hotmail.com
Objetivo: Relatar o caso de uma gestação ectópica prontamente diagnosticada e tratada com sucesso na emergência da maternidade do Hospital Municipal Miguel Couto (HMMC).
Métodos: As informações foram obtidas por meio de anamnese, exames laboratoriais, ultrassonografia (USG) transvaginal e acompanhamento clínico-obstétrico e cirúrgico.
Resumo do caso: V.S.F., 31 anos, G3PN1A1, 11 semanas e 2 dias de idade gestacional segundo a DUM (05 de fevereiro de 2017), buscou atendimento na emergência da maternidade do HMMC devido à intensa dor em baixo ventre, ao vômito e ao sangramento transvaginal. Relatou gestação tubária há dois anos, sendo realizada laparotomia. Negou disúria, diarreia e febre. Ao exame apresentava-se hipocorada (2+/4+), com abdome flácido e doloroso à palpação, altura uterina de 9 cm, FC=94 bpm, FR=20 irpm e Tax=36,3ºC. Ao toque vaginal: colo uterino posterior, fechado, amolecido e longo; útero globoso; e sangramento transvaginal discreto. O exame laboratorial mostrou eritrócitos (ERIT)=2,39 milhões/mm³; hemoglobina (HB)=7,4 g/dL; hematócrito (HCT)=21,4%; e plaquetas (PLQ)=195.000/mm³. A USG transvaginal evidenciou gestação ectópica em anexos à direita contendo feto único com vitalidade (BCF=150 bpm), CCN=46,7 mm, IG=11 semanas e 3 dias e moderado hemoperitôneo. Foi encaminhada à laparotomia. Na cirurgia observou-se tuba uterina direita íntegra, com congestão vascular e massa anexial medindo 9 cm; hemoperitôneo moderado; ovário direito com cisto de corpo lúteo íntegro medindo 4 cm; a tuba esquerda não foi visualizada (salpingectomia há 2 anos por gravidez ectópica); e ovário esquerdo sem alterações. Foi realizada a lavagem da cavidade abdominal com 1.500 mL de soro fisiológico, e foram aspirados 650 mL de coágulos. Após a salpingostomia direita com retirada de feto vivo em bolsas ovulares íntegras, foi realizada salpingectomia total direita, revisão da cavidade e da hemostasia e fechamento da cavidade por planos anatômicos. Evoluiu com bom estado geral, porém permaneceu hipocorada e apresentou hemoglobina de 6,0 g/dL. Foi realizada reposição volêmica e de hemoderivados. Recebeu alta hospitalar, com orientações gerais, após 48 horas do procedimento cirúrgico.
Discussão: A gestação ectópica é uma condição de alta morbimortalidade, sendo importante o rápido manejo clínico-obstétrico associado a exames complementares. A USG transvaginal permite sua confirmação e determinação do seu local de implantação, proporcionando imediato plano de tratamento ou acompanhamento, com a diminuição das complicações e a redução da morbimortalidade.
Palavras-chave: gravidez ectópica; abdome agudo; laparotomia.
Peritonite não infecciosa como complicação no pós-operatório de cesariana: relato de caso
Cristiano Salles Rodrigues
1
*
André Caldas Passos
1
Rafael de Castro Freitas
2
Lara Soares Morales Bitencourt Emmanuel Matias
2
Carlos Alexandre Ribeiro Goulart
2
Bernardo Tostes Linhares Soares
1
1Hospital Unimed Costa do Sol - Macaé (RJ), Brasil.
2Universidade Federal do Rio de Janeiro - Macaé (RJ), Brasil.
*Autor correspondente: sallesro@bol.com.br
Objetivo: Destacar a importância do conhecimento da peritonite não infecciosa como diagnóstico diferencial no pós-operatório de cesariana, evitando, assim, procedimentos invasivos desnecessários.
Método: Levantamento de dados clínicos, dados laboratoriais, exames de imagem e revisão bibliográfica pelas fontes PubMed e SciELO.
Resultado: Peritonite é uma inflamação do peritônio, membrana serosa que reveste parte da cavidade e das vísceras abdominais. Pode ser localizada ou generalizada, e resulta, frequentemente, de uma infecção ou, raramente, de um processo inflamatório não infeccioso. Os autores apresentam dois casos de peritonite não infecciosa simulando quadro de abdome agudo no pós-operatório de cesariana. No período de 6 meses, 2 pacientes entre o 4º e o 15º dia de pós-operatório de cesariana deram entrada no Hospital Unimed Costa do Sol (HUCS), em Macaé, Rio de Janeiro, com fortes dores e distensão abdominal. O abdome mostrava-se globoso, distendido e difusamente doloroso (“blumberg’’ positivo). As mulheres apresentavam, ainda, útero involuído, cicatriz cirúrgica em bom estado e lóquios fisiológicos. Leucograma normal e eritograma com hematócrito de 24,9 e 27,8%, respectivamente. A tomografia de abdome total com contraste demonstrava moderada quantidade de líquido livre intraperitonial. A primeira paciente foi submetida à videolaparoscopia com achado de moderada quantidade de líquido amarelo citrino, sem sinais de sangramento ou infecção ativa. Foi realizada a lavagem da cavidade, e a paciente recebeu alta em 48 horas. Na segunda, foi adotada uma conduta conservadora diante da história, quadro clínico e exames semelhantes, com hidratação cristaloide, uso de analgésicos e anti-inflamatórios não esteroidais e, devido à hipotensão ortostática, taquicardia e taquipneia. A paciente foi transfundida, apresentando melhora progressiva com alta três dias após a internação.
Conclusão: Além da peritonite infecciosa, outros diagnósticos devem ser lembrados na avaliação das complicações abdominais no pós-operatório de cesariana. A peritonite não infecciosa é mais rara, muito provavelmente por ser subestimada clinicamente. Ainda assim, a peritonite não infecciosa deve ser considerada diagnóstico de exclusão, e requer extensa avaliação clínica em busca de causas alternativas da ascite. O prognóstico é geralmente bom, e o tratamento baseia-se na analgesia e no uso de hidratação e anti-inflamatórios não hormonais. Para casos refratários, medidas alternativas individualizadas são indicadas.
Palavras-chave: peritonite; ascite; cesariana.