EDITORIAL
A importância da publicação dos resumos apresentados em congressos

The importance of the publication of abstracts presented at congresses

Renato Augusto Moreira de Sá 1, Mauro Romero Leal Passos 1

2018
Vol. 110 - Nº.02
Pag.28 – 29

Preparar um resumo a ser apresentado em congresso requer trabalho em sua elaboração. Portanto, é justo se questionar o que se ganha com esse esforço.

Escrever resumos e preparar apresentações para congressos beneficiam a especialidade como um todo e o pesquisador particularmente. Esse processo desenvolve habilidades críticas e gera inúmeras oportunidades, dado que é preciso uma quantidade razoável de trabalho para reunir em um resumo e apresentação a síntese de um projeto maior, pois esse resumo descreve concisamente o conteúdo e o escopo do projeto e identifica o seu objetivo, a metodologia, os resultados e as conclusões1. As apresentações em congressos e a publicação desses resumos ajudam na disseminação de descobertas e no desenvolvimento da reputação do pesquisador e do serviço ao qual pertence, associando o tópico que se está apresentando a ambos. Proporcionam ainda a rara oportunidade de se constituir uma rede e colaboração, o que pode levar a outros projetos2. Muitos pesquisadores iniciam relações colaborativas ao longo da vida depois de se conectar com alguém em um congresso.

A despeito de serem uma via importante para a divulgação dos dados atuais, de novas ideias ou de estudos preliminares, o Comitê Internacional dos Editores de Revistas Médicas sugere que os autores “tentem evitar o uso de resumos como referência”3. Porém, alguns pesquisadores têm observado que 15% das citações para a literatura cinzenta são resumos apresentados em congressos4. Outros autores relatam que os resumos são citados em média 1,6 vez a cada três anos após os congressos5. Portanto, podemos concluir que os resumos constituem uma valorosa ferramenta para a disseminação do conhecimento de forma rápida e pouco ortodoxa.

Listam-se ainda outras razões práticas adicionais para a preparação dos resumos a serem apresentados em congressos:

  • Ter algo aceito para apresentação geralmente é uma maneira de o pesquisador ser reembolsado quanto às despesas relacionadas ao congresso;

  • Passar pelo trabalho de submissão e apresentação ajuda na preparação do trabalho final, pois fornece um prazo e força o pesquisador a organizar seus pensamentos, analisar seus dados e colocá-los em um formato compreensível. Isso faz com que o trabalho final de escrever o manuscrito seja muito menos assustador;

  • Apresentar um trabalho em congresso também permite que o pesquisador obtenha feedback imediato, dando ao apresentador ideias adicionais para análises, explicações alternativas para descobertas e ideias sobre orientações futuras6.

    Um exemplo positivo que sempre vem à mente é o do Femidom, hoje mundialmente aceito como importante produto na prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e da gravidez e comercializado como “camisinha” feminina, apresentado em pôster no Congresso Mundial de Ginecologia da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO), em 1988, no Rio de Janeiro.

    Outro dado que merece atenção de publicação de resumos de pesquisas em congressos médicos diz respeito à apresentação de resultados parciais de investigações e de relato de casos. Isso garante que o autor está apresentando conhecimentos novos que podem gerar robustas publicações e até influenciar na atenção em saúde no âmbito global. Todavia, o resumo publicado pode gerar críticas que farão os autores refletirem sobre o trabalho apresentado.7

    O Jornal Brasileiro de Ginecologia (JBG), que nasceu Annaes Brasileiros de Gynecologia, busca resgatar as ideias originais do seu diretor fundador, o professor Arnaldo de Moraes, que já em 1936, no seu primeiro número, publicou uma série de resumos, à semelhança do que fazemos agora, possivelmente por reconhecer a importância dos resumos na disseminação do conhecimento científico. É nosso entendimento que, embora o processo de revisão usado para resumos de congressos seja menos rigoroso do que para as publicações de um periódico, isso não é suficiente para não os considerarmos como uma fonte de referência, já que muitos contêm dados preliminares de estudos que serão considerados para a publicação do artigo completo.

  • REFERENCES

    1. Relman AS. News reports of medical meetings: how reliable are abstracts? N Engl J Med. 1980 Jul 31;303(5):277-8.
    2. Berry M. What’s wrong with these conference proceedings? Phys World. 1991 Jul;4(7):12-3.
    3. Kelly JA. Scientific meeting abstracts: significance, access, and trends. Bull Med Libr Assoc. 1998 Jan;86(1):68-76.
    4. International Committee of Medical Journal Editors. Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals: Writing and editing for biomedical publication. J Pharmacol Pharmacother. 2010 Jan-Jun;1(1):42-58.
    5. Goldman L, Loscalzo A. Fate of cardiology research originally published in abstract form. N Engl J Med. 1980 Jul 31;303(5):255-9.
    6. Evered D, Porter R, Nugent J. International scientific meetings: relation between structure and function. Br Med J. 1985 Oct 12;291(6501):1028-31.
    7. Wood GJ, Morrison RS. Writing Abstracts and Developing Posters for National Meetings. J Palliat Med. 2011 Mar;14(3):353-9.
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